Matéria publicada pelo jornal Odiário do Norte do Paraná 25-01-06
Juros. Analisar esse tema me faz lembrar de um antigo quadro do programa humorista Jô Soares onde seu personagem, hospitalizado em estado crítico, entubado, ouvia coisas que lhe soavam estranhas e pedia aos atendentes:”Tira o tubo”! A mensagem: é melhor morrer do que viver para ver essas coisas.
Juros, novamente é um tema que tem ocupado grande espaço na imprensa, é conversa quente nas rodas de discussões de leigos, entendidos, políticos e profissionais da área. O tema é muito caloroso e polêmico, tanto pelos conceitos econômicos quanto pela lógica popular. O que soa estranho é que sempre que se fala em juros altos, quase só se ouve da taxa SELIC, que é a que serve como referência para toda a política de juros do país. Aí a questão: E as taxas praticadas ao consumidor, estão esquecidas? Bom, isto que tem ficado à margem das discussões, mesmo porque se é difícil até para quem é da área entender, quanto mais para os cidadãos comuns que veêm a imprensa falar em juros altos, citando taxas de 17,25% ao ano, que é equivalente a 1,33% ao mês, e no seu dia a dia, paga no limite cheque especial até 8% ao mês, no financiamento rotativo do cartão de crédito, acima de 10%, e para confundi-lo ainda mais, se ele for financiar um carro, consegue taxas relativamente baixas, em torno de 1,7%.
Na realidade, não há explicação técnica convincente para tudo isso. O mais comum, é ouvirmos que é por causa da inadimplência! Realmente este é um fator a ser considerado, mas vamos ser racionais: qualquer empresário de pequeno porte, se tiver problemas para receber de seus clientes, ele aumenta os cuidados na hora de vender a crédito, porque ele sabe, se ele elevar o preço de suas mercadorias o consumidor compra na loja do concorrente. Já no mercado financeiro a lógica que funciona não é bem essa. Os bancos e instituições financeiras, como empresas competentes que são em busca de seus resultados, perceberam que as pessoas físicas em sua grande maioria possuem características interessantes: Seja por desconhecimento ou por descontrole, não estão preocupados no quanto custa o dinheiro, mas sim, se a prestação cabe ou não no seu bolso, ou em ter a sensação de um poder aquisitivo maior momentaneamente, no caso do cartão de crédito. O limite do cheque especial, tansforma-se facilmente em um pseudo complemento de renda, que fica eterno, e na realidade acaba reduzindo o poder aquisitivo, pois o pagamento mensal de juros acaba engolindo fatias consideráveis da renda da pessoa.
Esses comportamentos do consumidor são terreno fértil para o mercado financeiro que enquanto tiver quem pague essas taxas, obviamente não vai baixá-las, afinal esse é o seu negócio. Para o consumidor entender isso, realmente é difícil, o mais sensato, é procurar educar-se e buscar formas de escapar dessas ciladas do mercado, que ele se ajustará naturalmente. Certamente, apesar de que tudo isso é confuso e difícil entender, ainda não é a hora de “tirar o tubo” tal qual o personagem de Jô Soares, é hora mesmo de cuidar de sua saúde financeira que é a solução mais sensata para essa doença social brasileira.
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